Essa é a décima eleição que faço a cobertura jornalística no Acre. Mas nunca tinha visto as atenções dos eleitores acreanos estarem muito mais focadas na corrida presidencial do que na estadual. É realmente um fenômeno.
Sem pretender ser o “dono da verdade” tentarei analisar esse fato inédito na nossa política. Nas eleições anteriores a disputa à presidência da República quase não interferia nas campanhas do Estado. As escaramuças entre os internautas sempre estiveram, na sua maioria, direcionadas para os candidatos ao Governo do Estado. Só que em 2018 as coisas mudaram.
Quem acompanha as redes sociais no Acre poderá perceber com facilidade que a maioria das postagens estão relacionadas aos candidatos a presidente e não a governador. Obviamente que os militantes do Gladson (PP), Marcus (PT) e Ulysses (PSL) têm dado “tacadas” entre eles, mas numa proporção muito menor do que nas outras eleições. Agora, experimente escrever e postar alguma coisa sobre o Bolsonaro (PSL), Haddad (PT), Ciro (PDT), Marina (Rede) ou Alkmin (PSDB). A reação é imediata com uma chuva de comentários. Bate-bocas enormes e tentativas de cooptação e convencimento de votos. Uma coisa impressionante. Parece que os acreanos estão muito mais interessados em quem será o presidente da República do que o próximo Governador do Estado. E isso não é comum. Na minha opinião, isso reflete um desânimo da população com a atual situação política e econômica por aqui. Muita gente decepcionada com os nossos políticos acreditando em “salvadores da pátria” que possam impor uma ordem de fora pra dentro. Reflexo ainda do mar de corrupção com o dinheiro público que a imprensa revela todos os dias e revolta as pessoas passando por dificuldades financeiras. Sinto que os eleitores querem um “justiceiro” para aplacarem toda a revolta que sentem por não terem uma segurança pública, uma saúde e uma educação de qualidade. Pela indignação com o desperdício de recursos em projetos fúteis que mais saciam o ego de alguns governantes do que atendem as verdadeiras necessidades das pessoas. Portanto, um quadro negro que está sendo pintado com cores de desespero, desconfiança e descrédito. Agora, o que me choca realmente nessa situação é que os grandes responsáveis pelo país ter chegado a esse ponto não se dignam a fazer uma autocrítica e continuam a arrotar arrogância sobre o povo sofredor. Lembrando que não existe colheita sem que se tenha plantado uma semente. E cada um é que sabe se era de erva daninha ou de flores as sementes que colocou na terra e que agora estão brotando em forma de votos.
Voto contra
Tenho escrito que estamos vivendo uma eleição do “voto contra”. Tanto para presidente quanto para governador ou senador. Sinto as pessoas muito machucadas pelo “mar de lama” que se abateu sobre o nosso país e o nosso Estado. Os que lideram a corrida eleitoral representam a antítese do atual sistema vigente. Já se deram conta?
Efeito contrário?
A mais recém publicada pesquisa do Ibope mostrou um crescimento de quatro pontos para o candidato Bolsonaro. Isso depois de milhões de mulheres irem às ruas das cidades brasileiras gritarem #elenão. A minha impressão é que o movimento teve o efeito contrário do se esperava. Pelo menos é o que mostra o Ibope.
Só o Ciro
Nas projeções de segundo turno do Ibope o único candidato a presidente que vence o Bolsonaro é o Ciro Gomes (PDT). Haddad empata, Alkmin também na margem de erro da pesquisa e Marina já aparece atrás de Bolsonaro num eventual segundo turno. O contraditório é que a mesma pesquisa mostra que as chances de Ciro ir ao segundo turno ainda são pequenas.
Mais um debate
Mas vindo para a realidade do Acre. Os candidatos ao Governo estarão mais uma vez frente a frente no debate da Rede Amazônica. Gladson Cameli, Marcus Alexandre, Coronel Ulysses e David Hall terão mais uma chance de se apresentarem ao eleitorado acreano. Espero que o debate seja pautado pelas ideias e planos de governo e não por brigas e trocas de ofensa.
Tirando o corpo
Li que o ex-prefeito de Tarauacá, Rodrigo Damasceno (PT), correu da raia. Ele era o responsável pela campanha do PT no município. Por algum motivo achou que poderia estar mais atrapalhando do que ajudando. Estranho né? Quando Rodrigo era prefeito sempre teve uma boa relação com o senador Gladson em parcerias de obras no município.
Esperando Godot
Também os apoiadores do PT em Manoel Urbano estavam esperando o Marcus para uma caminhada no município. Como o candidato não pôde estar presente muitos se revoltaram. Circularam gravações impublicáveis pelas redes sociais.
Andando
Marcus esteve em Brasiléia e outros municípios do Alto Acre. As pesquisas publicadas desfavoráveis não diminuíram o ritmo de campanha do petista. Seja qual for o resultado das urnas, Marcus não poderá ser acusado de fazer “corpo
mole”.
Momento de união
A eleição para o Governo do Acre ainda não está resolvida. Poderá ser decidida no primeiro turno ou ter mais 15 dias de campanha para o segundo turno. Agora, seja quem for o novo governador do Acre que o seu primeiro ato seja descer do palanque e promover a união entre todos os acreanos. Vingança não vai resolver os sérios problemas que enfrentamos principalmente na segurança pública. Espero que o espírito pacifista prevaleça sobre o bélico. Porque vejam bem para onde “as guerras políticas”, o “ódio” e as “fofocas” nos levaram.